quinta-feira, 27 de março de 2008

Por quanto tempo eu dormi?

Lembro que quando fechei os olhos você era todo desengonçado e me criticava quando eu tirava o maço de cigarros do bolso, ameaçando ser a última vez que nos veríamos. O nosso abraço era apertado, caloroso, fraterno... Os teus olhos me encaravam como a um pai e buscava a perfeição para não te desapontar. Fiz de tudo para ser aquele cara em quem você podia se espelhar.
Você cresceu e levou a sério a idéia de se espelhar. Ainda me espanto com a idéia de que o garotinho que eu buscava em casa pra ir pra balada conosco, hoje barbado, carrega uma lata de cerveja na mão e um cigarro na outra. Por quanto tempo dormi que não acompanhei esta transição?
Demorei tanto tempo pra perceber tanta coisa, mas pensei que com você não seria assim. Você era uma das poucas pessoas que acreditava não ser tudo aquilo que abominava em mim.
Hoje nos cumprimentamos formalmente, ensaiamos um saudoso abraço, mas a despedida é com um aperto de mão. As historias, as lembranças, a saudade, ficam guardadas, sendo expressas apenas pelo olhar, que não tem o mesmo brilho de antigamente. O sentimento não cresceu com a gente? A saudade também amadurece com as pessoas? É por esta razão que elas se tornam tão brutas, tão frias?
O menino que corria até mim em busca de auxílio, agora zomba dos meus conselhos. Quando foi que parei de pensar como ele e ele passou a ver a vida do meu antigo ponto de vista?
A vida passou tão rápido que não pudemos sentar e discutir sobre tanta coisa. Agora é tarde pra isso. Agora não importa mais. Agora você não precisa mais de mim. Mesmo assim você estará em minhas orações.
Fique com Deus, com teus novos amigos e com teus vícios.

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