quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Adeus!

"You and me
We used to be together
Everyday together always
I really feel
That I'm losing my best friend
I can't believe this could be the end"
                                  (Don't Speak - No Doubt)


Toda vez que ouço essa música lembro de um grande amigo e muitas vezes chego a chorar. O destino é cruel: coloca pessoas em nossas vidas, faz com que elas se tornem um pedaço de nós e de uma hora para outra nos arranca sem dó, nem piedade.

Milhas e milhas nos separam, o sentimento ainda é o mesmo. É sempre como se o adeus tivesse sido ontem, embora quase dez anos tenham se passado. 

E sem dúvida continua martelando...

Mas a gente se acostuma, um dia a gente se vê. Um dia nos abraçaremos de novo, um dia nossos corações bateram perto um do outro novamente. E dois quase estranhos relembrarão o passado.

No começo do ano, depois de tanto tempo longe de casa, sabendo que voltaria para a estrada e seria mais um ano saltando de lugar para lugar, tentei resgatar alguns laços, desfazer alguns erros, reerguer pontes e uma porta pareceu se fechar.


Quando eu já havia esquecido do ocorrido, a porta se abriu e voltei a ter contato com alguém que fora muito importante, mas com uma personalidade difícil. Não apenas para mim, mas para todos.

O tempo se passou para nós também e hoje somos mais desconhecidos do que eu e aquele que não vejo há 10 anos.


Dias atrás, o seriado Glee exibiu um episódio chamado The break-up, onde os principais casais do seriado entravam em crise ao som dessa música. Pela primeira vez não foi do meu velho amigo que lembrei e sim daquele que estava mais próximo e ao mesmo tempo mais distante.

E eram as mesmas frases que martelavam em minha cabeça. A gente vivia junto, e cheguei a ser sua aposta da amizade tão sonhada. Não acredito que tenhamos sido melhores amigos, afinal, esse lugar deveria ser de uma pessoa só, mas nunca desejei ver o fim.

Lembro que quando andava pelos corredores da faculdade e alguém fingia não ter visto para não ter que me cumprimentar eu me perguntava "Por que diabos essa pessoa é meu contato em qualquer p**** de rede social" e mais uma limpeza era feita.

Pois bem, a última vez que fui pra casa, cruzei com esse cara que cheguei a chamar de amigo, que cheguei a chorar e implorar pela sua amizade, estávamos no mesmo lugar, ele sabia disso e se recusou a me cumprimentar.

Já tomei tapa na cara, chute no saco, mas as maiores surras que tomei até hoje não vieram da força das mãos e nem dos pés de ninguém.


E, é por isso, que digo adeus. Tentei ser seu amigo - não o amigo que você sempre ansiou, longe de mim, apenas um amigo - e não deu certo. Colega, conhecido... pra quê? Apenas mais um cara que me cumprimenta na rua?

Eu não posso fingir que nada aconteceu, você faz parte de quem me tornei e, infelizmente, o verbo está no passado.

Desejo toda a felicidade do mundo. Do seu mundo, seja lá qual seja ele!

"O que impede de andar pra frente é a direção que escolheu
Se um abismo separa a gente, quem fez a escavação não fui eu
Eu sei que gente que tem coragem não finge que nada disso aconteceu" 

sábado, 7 de janeiro de 2012

Infância

Carlos Drummond de Andrade

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.
Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!
Lá longe meu pai campeava
no mato sem fim da fazenda.
E eu não sabia que minha história
era mais bonita que a de Robinson Crusoé.