quinta-feira, 29 de julho de 2010

Graduação

- E agora chamamos o aluno Ivan para assumir a tribuna e fazer o discurso de orador, disse o professor Gilmar, paraninfo do terceiro ano.

Ivan estava totalmente seguro de si até o momento em que chegou ao salão. Mas agora ele se sentia diferente, incomodado. Ele se levantou timidamente,não queria, mas fitou todos os rostos e o encaravam e o acompanharam até a tribuna em frente ao palco.

Eram muitos os rostos conhecidos. Quanta coisa havia se passado em cinco anos na companhia daqueles jovens, que assim como ele só tinham uma certeza: agora que estariam distantes, a única coisa que havia em comum era a incerteza do que seria o seu futuro.

Se realmente iriam para o caminho correto, se acertariam a sua profissão na primeira tentativa, se estavam prontos para o ensino superior.

- Boa noite a todos - ele começou - É uma honra ter sido escolhido dentre tantos alunos para estar falando em nome de nós.

E o discurso começou a decorrer.

Ele agradeceu aos professores, aos colegas de caminhada escolar, companheiros de sala. Sua voz começou a ficar trêmula quando começou a homenagear sua família, representando todas as famílias ali presente.

De repente ele travou. Era a hora de homenagear os amigos. A parte mais emocionada do discurso de Ivan era dedicada àqueles que o motivaram a ser alguém, a persistir quando ele desistiu de estudar e saiu de casa. Mas nenhum deles estava ali.

Entre uma cachoeira de lágrimas ele apenas conseguiu dizer "Aos amigos...". Calado ele se afastou da tribuna e uma chuva de aplausos ecoou sobre o salão. E enquanto a festa começava, para ele era a hora de ir pra casa, pois não havia ali com ele realmente quisesse comemorar.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

There was a time...

"Eu tava só, sozinho
Mais solitário que um paulistano
que um vilão de filme mexicano"

(Telegrama- Zeca Baleiro)



Houve um tempo em que ficar em casa num fim-de-semana era sinônimo de castigo, hoje eu entendo com um privilégio. Um tempo para descansar, relaxar e para curtir comigo, me conhecer melhor. Acho que nunca tinha tanta ciência de quem sou como tenho hoje.

Talvez porque antes eu vivia fragmentos meus e fragmentos dos meus, sem saber separar quem era quem.

Eu vivia a acidez do Elias, a doçura da Karen, a lealdade da Raquel, a imaturidade do Marcel, o ciúme da Júlia, a indecisão de Miguel, o receptividade de Débora, o manipulador do Ivan, o espírito competitivo de Marcos e o jeito desligado de Ramon.

Hoje eu vivo um pouco de cada um, porém dentro de mim, e agora consigo mensurar cada um deles em mim. Sei qual a importância de cada característica minha e grande parte do que me fez ser quem eu sou.

Talvez um dia eu sinta falta de quando a janela do msn não parava de piscar, de quando o telefone não parava de tocar. E quando isso acontecer, eu saberei que não estou bem comigo, pois algo está em falta.

Eu tenho minhas doses diárias de amizade, de família, de lazer e de trabalho, mas o meu elixir da felicidade agora se chama amor próprio.

Sim, houve um tempo... Houve um tempo em que eu vivia de sonhos, hoje eu aprendi a viver com eles. Eu convivo com meus sonhos, eu caminho entre a realidade e o ilusório, mas os meus pés nunca deixam de tocar o chão. Esse tempo já se foi.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Do que você tem medo?

Queria poder te perguntar por que estes olhos tristes mais uma vez. Não gosto de ver este semblante caído e nem a tua voz falha, acuada.
Queria poder te coloar no colo, te proteger e te afagar como faria com um filho, mas já nã tens mais tamanho para isso.
Seria tão bom se pudesse confiar em mim, se pudesse me deixar compartilhar os teus medos, as tuas algústias, como quando fazíamos nos tempos de moleque. Ao invés de dormimos ficavamos trocando confidências, sonhos, idealizando o nosso futuro. E o engraçado é que em todos os planos havia alguém conosco.
E hoje... Ah, hoje é apenas hoje. Mentira, o hoje é o que importa agora. O passado agora são apenas histórias boas e ruins.
Quem está do teu lado agora? Quem sonhava, quem gostaria? Quem você quer que esteja do teu lado? Você dá oportunidades?
Pra ter ajuda você precisa pedir. Quero estar do teu lado, mas você precisa me deixar estar. Ainda me quer nessa caminhada? Ainda quer que eu te dê a mão? Embora quem tenha se perdido no caminho seja eu.
Mas eu estou disposto. Quando você quiser a gente se ajuda, a gente se protege, a gente se levanta e podemos continuar juntos esta caminhada. Afinal, nada como caminhar com um grande amigo.
Enfim... Até lá.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Os nossos dias serão para sempre

"Aproveite as pessoas ao máximo, pois você nunca sabe até quando elas estarão ao seu lado". Está frase martelou por muito tempo dentro de mim e hoje ela voltou numa intensidade imensurável.

A nossa passagem de ano foi mágica e se extendeu por mais duas semanas. Duas incríveis semanas. Mas agora devemos voltar à realidade.
Era a despedida dos nossos amigos de longe, o clima era de festa. Na verdade, o clima era estranho. Estávamos divididos, o incômodo era visível até para aqueles que não faziam parte do nosso convívio.
Deveríamos estar ali para confraternizar, mas a cada minuto ficava mais evidente o que estava acontecendo: estavamos nos dissipando.
A união de diversos fatores me trouxe pensamentos cruéis que me multilavam por dentro. Cada pontada que se seguia era uma lágrima que conseguia segurar.
Após um abraço confortante pensei que fosse desabar e decidi curtir o resto da noite. Não, não ia desfrutar na presença daqueles que partiam. Embora quisesse sugar ao máximo os momentos que nos restavam juntos, alguns tinham menos tempo que eu. Era o mínimo que eu podia fazer. Mas eu fui além.
Encontrei abrigo numa casa onde achei que não mais habitava e essa fortaleza me salvou. Eu me vi em uma guerra de sentimentos e um passado adormecido estava sendo vivenciado novamente. Em um novo formato, sem toda aquela fantasia adolescente. Éramos antigos amigos, curtindo um momento bom sem relembrar o passado e tudo o que ele havia nos causado.
E foi o que me salvou, o passado adormecido.
Por isso sei que mesmo que não voltemos a nos ver e nem mesmo nos falar, tudo o que aconteceu, quer seja nessas últimas 3 semanas, nos últimos dez anos ou em toda uma história que ianda está por vir, o que está guardado dentro de nós, ninguém tira.
Mesmo que nunca volte a existir um "nós", os nossos dias serão para sempre dentro de cada um de nós.