sexta-feira, 14 de março de 2008

Madrugada

Ele repousou seu dorso dolorido na cama que há mais de vinte horas não via. Rola de um lado pro outro, seus olhos permanecem abertos, insistem não fechar. Todos os pensamentos que a correria cotidiana se incumbiram de camuflar, agora vinham à tona.
Pegou o telefone, o fitou por alguns segundos; apertou quatro dígitos e mais uma pausa. “Já é tarde”, pensou.
O celular estava na mesinha de cabeceira e pareceu a saída mais tentadora. Um, dois, três, cinco minutos se passaram e “Desculpe” foi a única coisa que ele conseguiu escrever nesse tempo todo.
Agora sentado, passando os olhos na curta mensagem no visor pouco nítido do celular, ele não tentou segurar a fina lágrima que rolou de seu olho direito e parou em seu lábio superior, onde pode saborear ainda mais o seu vazio.
“Lágrimas são salgadas porque se fossem doce todo mundo ia querer. Daí a gente ia ter que comprar engarrafada”, ele suspirou e sorriu brandamente. Havia sido uma das ingenuidades mais memoráveis dentre todas as lembranças das quais agora tentava fugir. E foi então que a penumbra se tornou incapaz de esconder as demais lágrimas que começaram a correr por sua face. Os soluços que chegaram depois evidenciavam ainda mais o seu sofrimento.
Olhou para o telefone na esperança de apenas um toque, mesmo sabendo que ele não iria tocar.
Olhou para as fotos do novo mural – ainda não teve a chance de mostrar pra ninguém, já que há muito não recebia visitas – na parede em frente a cama e por alguns segundos se sentiu na companhia daqueles que sempre se mostraram ao seu lado, embora tivesse certeza de que um dia se ausentaria.
Com os olhos vermelhos, cessando o soluço, mais uma vez voltou a se deitar, abraçou o travesseiro, respirou bravamente ao pensar que amanhã tudo se repetiria – assim como fora nas ultimas semanas – e dormiu.
Só assim fugia de tudo que queria esquecer. Depois de tanto lutar para conquistar o seu lugar, mais uma noite ele estava só.

Um comentário:

Anônimo disse...

Sem o que falar.
Tel-me.

;*