segunda-feira, 2 de junho de 2008

Saudade...

Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo. Ele era um pássaro diferente de todos os demais: Era encantado. Os pássaros comuns, se a porta da gaiola estiver aberta, vão embora para nunca mais voltar, mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades...

Suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava.

Certa vez, voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão.

Menina, eu venho de montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco de encanto que eu vi, como presente para você.... e assim ele começava a cantar as canções e as estórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.

Outra vez voltou vermelho como fogo, penacho dourado na cabeça... venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga; minhas penas ficaram como aquele sol e eu trago canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes.

E de novo começavam as histórias. A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isso voltava sempre; mas chegava sempre uma hora de tristeza. Tenho que ir, ele dizia. Por favor não vá, fico tão triste, terei saudades e vou chorar.....
Eu também terei saudades, dizia o pássaro. Eu também vou chorar.

Mas eu vou lhe contar um segredo: As plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios... e o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera da volta, que faz com que minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudades. Eu deixarei de ser um pássaro encantado e você deixará de me amar.

Assim ele partiu. A menina sozinha, chorava de tristeza à noite. Imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa destas noites que ela teve uma idéia malvada.
Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá; será meu para sempre. Nunca mais terei saudades, e ficarei feliz. Com estes pensamentos comprou uma linda gaiola, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera.

Finalmente ele chegou, maravilhoso, com suas novas cores, com estórias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu.

Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz. Foi acordar de madrugada, com um gemido triste do pássaro. Ah! Menina... Que é que você fez?

Quebrou-se o encanto. Minhas penas ficarão feias e eu me esquecerei das estórias....
Sem a saudade, o amor irá embora... a menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas isto não aconteceu...

O tempo ia passando, e o pássaro ia ficando diferente. Caíram suas plumas, os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio, deixou de cantar.

Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava pensando naquilo que havia feito ao seu amigo... Até que não mais agüentou. Abriu a porta da gaiola.

Pode ir, pássaro, volte quando quiser...

Obrigado, menina. É, eu tenho que partir. É preciso partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro da gente. Sempre que você ficar com saudades, eu ficarei mais bonito.
Sempre que eu ficar com saudades, você ficará mais bonita. E você se enfeitará para me esperar... e partiu. Voou que voou para lugares distantes.

A menina contava os dias, e cada dia que passava a saudade crescia. Que bom, pensava ela, meu pássaro está ficando encantado de novo... E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos; e penteava seus cabelos, colocava flores nos vasos... Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje...

Sem que ela percebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado como o pássaro.
Porque em algum lugar ele deveria estar voando. De algum lugar ele haveria de voltar.
AH! Mundo maravilhoso que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama... e foi assim que ela, cada noite ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento. Quem sabe ele voltará amanhã.... E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro. [Rubens Alves]

3 comentários:

eder disse...

saudade é bom

bonito o texto , gostei

Stanley Alexander disse...

Eu ganhei um passarinho lindo
Todo dia ele canta, pra me acordar
O seu canto é tão bonito, alegre
Gosto tanto de você, meu amiguinho


Dá vontade de te ver voar
Batendo as asas lá pertinho do céu
Mas tenho medo de você não voltar
E quem é que vai cuidar de você, meu passarinho


O seu canto tem o sol de verão
É prá mim a mais bonita canção
Você canta pra dizer
Que a gente tem que ter amor no coração
A tristeza bateu asas, voou
Desde o dia que você chegou
E até as flores do jardim
Estão fazendo festa de alegria pra mim

Stanley Alexander disse...

José Augusto e Trem da Alegria - O passarinho